Sedação na cardioversão elétrica

Cardioversão elétrica corresponde a aplicação de um choque elétrico sincronizado no tórax de um paciente utilizando o desfibrilador. Existem algumas situações que é indicada esse procedimento. Dentre as indicações, podemos citar taquiarritmias supraventriculares com instabilidade hemodinâmica, taquicardias supraventriculares ou ventriculares que ocorreu falha na reversão por medicação endovenosa e a cardioversão de rotina na fibrilação atrial.

Uma dúvida frequente entre os cardiologistas é como realizar a sedação para esse procedimento? Esse será o tema da postagem em questão.

Recentemente foi realizada uma revisão sistemática pela Cochrane que comparou a segurança, efetividade e efeitos adversos associado aos variados anestésicos e drogas sedativas. Essas medicações foram classificadas em 03 grupos: 1-Agentes indutores anestésicos tradicionais (propofol e etomidato); 2-Agentes inalatórios anestésicos (sevoflurano e isoflurano); 3-Drogas classificadas como agentes sedativos (diazepam e midazolam). Após análise de  23 estudos envolvendo cerca de 1250 participantes, não foi encontrado diferença entre os agentes estudados e a conclusão foi de que não havia necessidade de mudança na prática atual.

É importante destacar que deve ser realizado o procedimento de sedação profunda nesses pacientes. Isso corresponde a uma sedação que o paciente não possa ser facilmente despertado, mas responde a estímulos dolorosos repetidos. Pode ainda necessitar de intervenção nas vias aéreas e suporte ventilatório. A função cardiovascular é mantida.

Esse tipo de sedação pode ser obtido com dose lenta de propofol em bolus com doses suplementares adicionais se necessário. Essa abordagem parece apropriada para pacientes com reserva cardiorrespiratória limitada. A administração de benzodiazepínicos isoladamente ou em conjunto com opiáceos pode ser utilizada, porém não é recomendada.

PROCEDIMENTO:

PREPAROS INICIAIS:

              Deve ser realizado a monitorização cardíaca do paciente e explicar para ele como será o procedimento. O oxímetro de pulso deve ser conectado para vigilância da saturação de oxigênio.  O paciente deve estar com um bom acesso venoso. Não esquecer de verificar se o paciente possui prótese dentária.

PRÉ-OXIGENAÇÃO E MANEJO DE VIA AÉREA:

                É muito importante que o paciente seja pré-oxigenado por pelo menos 03 minutos antes da cardioversão. O uso da máscara facial convencional pode ser utilizada para a manutenção da ventilação espontânea. Raramente é necessário a assistência por ventilação manual. Pacientes com obesidade mórbida ou apnéia obstrutiva do sono é indicada que seja colocado na posição semi-inclinada para o procedimento (30 graus).

O cuidado da pré-oxigenação antes do procedimento deve-se principalmente para evitar uma das complicações mais frequentes que é a hipóxia secundária a sedação.

Dica valiosa:  colocar a máscara facial com alto fluxo (08 litros/minuto) e solicitar para o paciente inspirar e expirar bem profundamente, devagar, por 05 a 06 vezes.

ANALGESIA:

                Apesar da cardioversão ser um procedimento doloroso, raramente o paciente queixa-se de dor após a realização. A coadministração de opioides raramente é necessária com risco de apnéia e náuseas após o procedimento.

SEDAÇÃO:

Propofol parece ser a medicação de escolha na sedação para cardioversão elétrica pois age rapidamente, causa menos laringoespasmo e perde seu efeito assim que o tratamento é interrompido.       

A sedação pode ser prontamente obtida pela administração lenta de Propofol em bolus (0,5 a 1,0 mg/Kg), com doses suplementares adicionais conforme necessário (0,25mg/Kg). É importante lembrar que o propofol é um agente com rápido início de ação e recuperação também rápida. A apresentação da medicação é em frasco-ampolas de 10, 20 e 50ml na concentração de 10mg/ml. Como o propofol pode causar hipotensão arterial, é importante durante a sua administração ter de fácil acesso solução cristaloide de cloreto de sódio 0,9% (250ml ou 500ml) caso necessário.

Outra opção seria o Etomidato. A dose hipnótica do etomidato se situa em torno de 0,2 a 03mg/kg. A ampola de 10ml contém 20mg de Etomidato. Em adultos de aproximadamente 70Kg, uma ampola seria suficiente para uma hipnose de 04 a 05 minutos de duração. A medicação tem pouco efeito sobre parâmetros hemodinâmicos.  

Após constatado que o paciente se encontra sedado, proceder a cardioversão elétrica. Não esquecer da vigilância dos parâmetros hemodinâmicos durante o efeito da medicação.

LEITURA RECOMENDADA:

Patrick R. Knowles, Chris Press. Anaesthesia for cardioversion, BJA Education, Volume 17, Issue 5, May 2017, Pages 166-171

Murat Sucu, Vedat Davutoglu, Orhan Ozer. Eletrical Cardioversion Ann Saudi Med. 2009 May-Jun; 29(3): 201–206.

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