Tempestade elétrica é definido como uma condição clínica caracterizada pela recorrência de taquicardia ventricular (TV) hemodinamicamente instável e/ou fibrilação ventricular (FV) em pacientes portadores de CDI (cardiodesfibrilador implantável) na prevenção primária ou secundária. A definição mais aceita é a presença de 03 ou mais episódios distintos de arritmias que levam a terapia do CDI, podendo ser estimulação antitaquicardia ou choque, em um período de 24 horas. Para o diagnóstico é necessário que a terapia seja apropriada e eficaz.
É um evento grave, necessitando da internação do paciente em uma unidade de terapia intensiva podendo levar enorme desconforto ao paciente e até desgaste precoce do CDI.
Importante destacar que outras situações como fibrilação atrial, taquicardia atrial, taquicardia sinusal e oversensing de artefatos podem levar a choques inapropriados de repetição. Nesse caso não é considerado tempestade elétrica e a correção é feita com programação do dispositivo (CDI).
A tempestade elétrica pode ocorrer na fase aguda do infarto, quando o paciente já tem uma cardiopatia estrutural ou alguma síndrome arrítmica. A maior parte dos episódios são devido a TV monomórfica (86 a 97%), seguidos por fibrilação ventricular sozinha (1-21%), mistura de TV e FV (3 a 14%) e por último TV polimórfica (2 a 8%). A maioria dos estudos sugerem que a tempestade elétrica é um fator adverso independente associado a maior mortalidade.
É considerada uma emergência médica. Com relação ao manejo existem alguns passos a seguir. Em primeiro lugar, a arritmia e os choques levam ao paciente apresentar um sofrimento físico e emocional importante, contribuindo com o aumento do tônus simpático e dessa forma pode contribuir com surgimento de outras arritmias. Em virtude disso, a sedação do paciente pode ajudar bastante.
Os betabloqueadores são medicamentos que aumentam o limiar de fibrilação ventricular e estão relacionados a diminuição de morte súbita nesse grupo de pacientes. O uso de betabloqueador endovenoso nessa situação, mesmo em pacientes que já fazem uso contínuo da medicação, ajuda a suprimir os episódios de tempestade elétrica.
A amiodarona tem sido amplamente utilizada na terapia aguda da tempestade elétrica, sendo o tratamento de eleição. Pode ser realizada uma dose em bolus de 5mg/kg e uma dose de manutenção de 900mg em 24 horas. Após a melhora clínica, que seria um período de 24 horas sem arritmia, pode ser prescrito 600mg por via oral de amiodarona. A associação da amiodarona com o betabloqueador no seguimento reduz as arritmias quando comparado só o uso do betabloqueador.
Em alguns casos os pacientes não apresentem melhora com os antiarrítmicos, com persistência da arritmia. Nessa situação o estudo eletrofisiológico com ablação apresenta bons resultados. Isso se deve a maior parte dos casos ocasionar por taquicardia ventricular monomórfica caracterizada por um mecanismo básico de reentrada. É um procedimento seguro e com baixo índice de complicações.
REFERÊNCIA
- SAGONE A. Electrical Storm: Incidence, Prognosis and Therapy. J Atr. Fibrillation. 2015. 8(4):1150
- GALVÃO FILHO, SS. CDI e Tempestade elétrica, qual a melhor conduta?. Journal of Cardiac Arrthythmias. 2011. Vol 24 (1)